A análise de amostras de pelo e pele desempenha um papel crucial no diagnóstico diferencial, ajudando a confirmar ou descartar suspeitas clínicas. A seleção dos exames deve ser baseada nos achados clínicos e nos diagnósticos diferenciais previamente levantados. Entre os testes laboratoriais mais comuns em dermatologia veterinária, destacam-se o exame de material escovado, tricograma, exame parasitológico, citológico, micológico, bacteriológico e histopatológico
Exame do material escovado da pelagem
Esse exame é simples e eficiente para detectar fezes de pulgas e identificar piolhos. Consiste em pentear grandes áreas do corpo do animal sobre uma superfície branca, analisando os pelos e resíduos coletados com lupa ou microscópio. Para confirmar a presença de fezes de pulgas, utiliza-se algodão embebido em álcool: manchas avermelhadas no algodão indicam sangue digerido nas excretas do inseto.Tricograma
O tricograma, ou tricografia, analisa microscopicamente os pelos, avaliando suas raízes, hastes e pontas. O procedimento envolve a extração de uma pequena quantidade de pelos com pinça, que são colocados sobre uma lâmina com óleo mineral para exame ao microscópio. Esse teste identifica ácaros, ovos aderentes e alterações como pontas quebradas, sendo útil no diagnóstico de condições como alopecia autoinfligida, dermatofitose, displasias foliculares e distúrbios pigmentares.Exame parasitológico de pele
- Raspados cutâneos são realizados com o auxílio de uma lâmina de bisturi posicionada perpendicularmente sobre a pele levemente lubrificada com óleo mineral ou vaselina líquida. Após múltiplas raspagens, o material obtido é transferido para uma lâmina de vidro, misturado a um agente umectante, como óleo mineral ou vaselina líquida, ou clareado com hidróxido de sódio ou potássio a 5% ou 10%, fragmentado em partículas menores e examinado ao microscópio sob baixo aumento na busca de patógenos.
- A coleta para o conduto auditivo é realizado com auxílio de um swab. O instrumento é inserido no canal auditivo e rotado até que uma quantidade de cerúmen suficiente seja obtida. Esse conteúdo é espalhado sobre uma lâmina de vidro e pode ser misturado a um agente umectante, como óleo mineral ou vaselina líquida, ou clareado com hidróxido de potássio, a 10% e examinado microscopicamente na busca de ácaros patogênicos.
- Nos casos em que há suspeita de sarna demodécica, recomenda-se pressionar a pele acometida antes de raspar, a fim de expulsar os ácaros (Demodex spp.), que se caracterizam por habitar profundamente os folículos pilosos, e aumentar as chances de encontrá-los.
- Nos casos em que a suspeita clínica é de sarna sarcóptica, deve-se lembrar que os ácaros (Sarcoptes scabiei) estão presentes em pequeno número; portanto, a realização de múltiplos raspados é muito importante.
Exame citológico da pele
A citologia é um método simples, rápido e acessível que fornece informações valiosas sobre a natureza inflamatória ou neoplásica das lesões e identifica microrganismos. A coleta pode ser feita por impressão direta (imprint), raspado superficial, swab ou punção aspirativa. Cada técnica é indicada conforme o tipo de lesão.O imprint é realizado através da compressão de uma lâmina de vidro sobre uma superfície afetada e geralmente é utilizado em lesões úmidas, erodidas ou ulceradas.
A citologia por raspado cutâneo é realizada principalmente nos bordos de lesões não ulceradas. Nesses casos, a força exercida para raspar a pele é bem menor do que a aplicada para um raspado cutâneo que vise o exame parasitológico de pele.
A citologia com auxílio de swab é utilizada principalmente para o diagnóstico de lesões inflamatórias do ouvido. Esse método também é muito útil na pesquisa de leveduras presentes na pele, especialmente para o diagnóstico de dermatite por Malassezia. Nesses casos, o swab é esfregado vigorosamente sobre a superfície cutânea e, posteriormente, girada sobre uma lâmina de vidro.
Para a realização de citologia por punção aspirativa, uma agulha fina é acoplada a uma seringa e suavemente introduzida na lesão. Logo após, a agulha é desacoplada e o êmbolo da seringa é puxado. A seringa ficará cheia de ar, a agulha é reacoplada e o conteúdo do interior da agulha espirrado em uma lâmina de vidro.
Exame micológico da pele
O exame micológico é amplamente utilizado na prática dermatológica devido à sua relevância no diagnóstico e tratamento de doenças fúngicas, como dermatofitose, malasseziose, esporotricose e criptococose. Para sua realização, são necessários materiais como lâminas de vidro, swabs, instrumentos esterilizados (como curetas e equipamentos de biópsia), meios de cultura, uma estufa e um microscópio óptico, ambos indispensáveis no laboratório.A análise microscópica da amostra busca identificar estruturas como artroconídios, leveduras, hifas ou pseudo-hifas. Embora essas estruturas possam estar presentes em qualquer parte do pelo, são mais facilmente observadas na região dos bulbos, especialmente em pelos torcidos. Pelos infectados por dermatófitos apresentam uma aparência irregular, com perda da definição entre suas camadas (cutícula, córtex e medula).
A luz de Wood, uma ferramenta de luz ultravioleta filtrada por cobalto ou níquel, é um recurso valioso para confirmar a suspeita de dermatofitose e direcionar a coleta de material para exame direto ou cultura. Para sua aplicação, é necessário ligar a lâmpada com antecedência de cinco a dez minutos, posicionar o paciente em uma sala escura e expor os pelos à luz por três a cinco minutos. Algumas cepas de fungos apresentam fluorescência lenta, exigindo atenção durante o exame. Em cães, a fluorescência observada é altamente sugestiva de infecção por Microsporum canis, embora apenas 30% a 80% dos casos dessa espécie apresentem essa característica. Para que o resultado seja considerado verdadeiramente positivo, é necessário que as hastes dos pelos fluoresçam.
Exame bacteriológico
O exame citológico é a abordagem inicial mais indicada para detectar bactérias patogênicas. No entanto, a cultura bacteriana torna-se necessária em situações em que a citologia identifica microrganismos, como cocos ou bastonetes, e o tratamento adequado não surte efeito. O sucesso da cultura bacteriana depende diretamente da seleção e do acondicionamento correto das amostras enviadas ao laboratório, uma vez que a qualidade do resultado está diretamente relacionada à qualidade do material coletado.
A coleta de material em erosões úmidas ou crostas deve ser evitada, pois esses locais frequentemente contêm bactérias contaminantes. Nas pústulas, o material deve ser extraído com uma agulha estéril e transferido para um swab também estéril. Em lesões mais complexas, como placas, nódulos, áreas drenantes ou profundas, recomenda-se realizar uma biópsia incisional para envio ao laboratório.
Exame histopatológico da pele
O exame histopatológico é essencial na dermatologia, confirmando diagnósticos com alta precisão e otimizando tratamentos. Sua eficácia depende da colaboração entre clínico e patologista, da seleção cuidadosa das lesões e da preservação adequada das amostras. É indicado para suspeitas de neoplasias, ulcerações persistentes, dermatoses refratárias, lesões vesiculares e condições graves ou de tratamento complexo.A biópsia deve ser realizada com técnicas apropriadas, evitando antissépticos que alterem as amostras. Instrumentos como bisturis e saca-bocados maiores (8-10 mm) são preferidos, e as amostras devem ser fixadas em formol a 10%, acompanhadas de informações clínicas detalhadas. Um laboratório confiável é essencial para garantir diagnósticos precisos, tornando o exame eficiente e econômico.
A precisão dos diagnósticos depende tanto da escolha correta do exame quanto da qualidade do material enviado ao laboratório. A colaboração entre clínicos e patologistas é essencial para garantir resultados confiáveis. Por isso, é fundamental escolher serviços laboratoriais de confiança, como os listados acima, e manter uma comunicação clara para discussão de casos e interpretação de resultados.
CAMPANA, Aline Bittencourt. Diagnóstico dermatológico na clínica de cães e gatos. Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Rio Grande do Sul, p. 53, 2010.
CAUBET, L. F. Diagnóstico histopatológico em dermatologia: como obter os melhores resultados em biópsias cutâneas. Derma Experience, v. 02, fev. 2022.
FEITOSA, Francisco Leydson F. Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico. 3. ed, São Paulo: Roca, 2014. 644p.
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