terça-feira, 26 de novembro de 2024


    A análise de amostras de pelo e pele desempenha um papel crucial no diagnóstico diferencial, ajudando a confirmar ou descartar suspeitas clínicas. A seleção dos exames deve ser baseada nos achados clínicos e nos diagnósticos diferenciais previamente levantados. Entre os testes laboratoriais mais comuns em dermatologia veterinária, destacam-se o exame de material escovado, tricograma, exame parasitológico, citológico, micológico, bacteriológico e histopatológico

 

Exame do material escovado da pelagem

    Esse exame é simples e eficiente para detectar fezes de pulgas e identificar piolhos. Consiste em pentear grandes áreas do corpo do animal sobre uma superfície branca, analisando os pelos e resíduos coletados com lupa ou microscópio. Para confirmar a presença de fezes de pulgas, utiliza-se algodão embebido em álcool: manchas avermelhadas no algodão indicam sangue digerido nas excretas do inseto.

 

Tricograma

    O tricograma, ou tricografia, analisa microscopicamente os pelos, avaliando suas raízes, hastes e pontas. O procedimento envolve a extração de uma pequena quantidade de pelos com pinça, que são colocados sobre uma lâmina com óleo mineral para exame ao microscópio. Esse teste identifica ácaros, ovos aderentes e alterações como pontas quebradas, sendo útil no diagnóstico de condições como alopecia autoinfligida, dermatofitose, displasias foliculares e distúrbios pigmentares.

 

Exame parasitológico de pele

    Utilizado rotineiramente, este exame é econômico e prático, auxiliando no diagnóstico de sarnas como demodécica, sarcóptica e otodécica. Os dois métodos mais utilizados para realização de exame parasitológico de pele são o raspado cutâneo, para pele em geral, e a coleta com swab, para o conduto auditivo. Técnicas alternativas, como as que utilizam fitas adesivas, têm sido descritas, mas ainda não se tornaram populares entre os dermatologistas.
  • Raspados cutâneos são realizados com o auxílio de uma lâmina de bisturi posicionada perpendicularmente sobre a pele levemente lubrificada com óleo mineral ou vaselina líquida. Após múltiplas raspagens, o material obtido é transferido para uma lâmina de vidro, misturado a um agente umectante, como óleo mineral ou vaselina líquida, ou clareado com hidróxido de sódio ou potássio a 5% ou 10%, fragmentado em partículas menores e examinado ao microscópio sob baixo aumento na busca de patógenos.
  • A coleta para o conduto auditivo é realizado com auxílio de um swab. O instrumento é inserido no canal auditivo e rotado até que uma quantidade de cerúmen suficiente seja obtida. Esse conteúdo é espalhado sobre uma lâmina de vidro e pode ser misturado a um agente umectante, como óleo mineral ou vaselina líquida, ou clareado com hidróxido de potássio, a 10% e examinado microscopicamente na busca de ácaros patogênicos.
    As chances do sucesso no diagnóstico são aumentadas se a técnica de amostragem for adaptada ao parasita que se espera encontrar, por exemplo:
  • Nos casos em que há suspeita de sarna demodécica, recomenda-se pressionar a pele acometida antes de raspar, a fim de expulsar os ácaros (Demodex spp.), que se caracterizam por habitar profundamente os folículos pilosos, e aumentar as chances de encontrá-los.
  • Nos casos em que a suspeita clínica é de sarna sarcóptica, deve-se lembrar que os ácaros (Sarcoptes scabiei) estão presentes em pequeno número; portanto, a realização de múltiplos raspados é muito importante.

 

Exame citológico da pele

    A citologia é um método simples, rápido e acessível que fornece informações valiosas sobre a natureza inflamatória ou neoplásica das lesões e identifica microrganismos. A coleta pode ser feita por impressão direta (imprint), raspado superficial, swab ou punção aspirativa. Cada técnica é indicada conforme o tipo de lesão.
    O imprint é realizado através da compressão de uma lâmina de vidro sobre uma superfície afetada e geralmente é utilizado em lesões úmidas, erodidas ou ulceradas.
    A citologia por raspado cutâneo é realizada principalmente nos bordos de lesões não ulceradas. Nesses casos, a força exercida para raspar a pele é bem menor do que a aplicada para um raspado cutâneo que vise o exame parasitológico de pele.
    A citologia com auxílio de swab é utilizada principalmente para o diagnóstico de lesões inflamatórias do ouvido. Esse método também é muito útil na pesquisa de leveduras presentes na pele, especialmente para o diagnóstico de dermatite por Malassezia. Nesses casos, o swab é esfregado vigorosamente sobre a superfície cutânea e, posteriormente, girada sobre uma lâmina de vidro.
    Para a realização de citologia por punção aspirativa, uma agulha fina é acoplada a uma seringa e suavemente introduzida na lesão. Logo após, a agulha é desacoplada e o êmbolo da seringa é puxado. A seringa ficará cheia de ar, a agulha é reacoplada e o conteúdo do interior da agulha espirrado em uma lâmina de vidro.


 

Exame micológico da pele

    O exame micológico é amplamente utilizado na prática dermatológica devido à sua relevância no diagnóstico e tratamento de doenças fúngicas, como dermatofitose, malasseziose, esporotricose e criptococose. Para sua realização, são necessários materiais como lâminas de vidro, swabs, instrumentos esterilizados (como curetas e equipamentos de biópsia), meios de cultura, uma estufa e um microscópio óptico, ambos indispensáveis no laboratório.
    A análise microscópica da amostra busca identificar estruturas como artroconídios, leveduras, hifas ou pseudo-hifas. Embora essas estruturas possam estar presentes em qualquer parte do pelo, são mais facilmente observadas na região dos bulbos, especialmente em pelos torcidos. Pelos infectados por dermatófitos apresentam uma aparência irregular, com perda da definição entre suas camadas (cutícula, córtex e medula).
    A luz de Wood, uma ferramenta de luz ultravioleta filtrada por cobalto ou níquel, é um recurso valioso para confirmar a suspeita de dermatofitose e direcionar a coleta de material para exame direto ou cultura. Para sua aplicação, é necessário ligar a lâmpada com antecedência de cinco a dez minutos, posicionar o paciente em uma sala escura e expor os pelos à luz por três a cinco minutos. Algumas cepas de fungos apresentam fluorescência lenta, exigindo atenção durante o exame. Em cães, a fluorescência observada é altamente sugestiva de infecção por Microsporum canis, embora apenas 30% a 80% dos casos dessa espécie apresentem essa característica. Para que o resultado seja considerado verdadeiramente positivo, é necessário que as hastes dos pelos fluoresçam.


 

Exame bacteriológico

    O exame citológico é a abordagem inicial mais indicada para detectar bactérias patogênicas. No entanto, a cultura bacteriana torna-se necessária em situações em que a citologia identifica microrganismos, como cocos ou bastonetes, e o tratamento adequado não surte efeito. O sucesso da cultura bacteriana depende diretamente da seleção e do acondicionamento correto das amostras enviadas ao laboratório, uma vez que a qualidade do resultado está diretamente relacionada à qualidade do material coletado.
    A coleta de material em erosões úmidas ou crostas deve ser evitada, pois esses locais frequentemente contêm bactérias contaminantes. Nas pústulas, o material deve ser extraído com uma agulha estéril e transferido para um swab também estéril. Em lesões mais complexas, como placas, nódulos, áreas drenantes ou profundas, recomenda-se realizar uma biópsia incisional para envio ao laboratório.


 

Exame histopatológico da pele

    O exame histopatológico é essencial na dermatologia, confirmando diagnósticos com alta precisão e otimizando tratamentos. Sua eficácia depende da colaboração entre clínico e patologista, da seleção cuidadosa das lesões e da preservação adequada das amostras. É indicado para suspeitas de neoplasias, ulcerações persistentes, dermatoses refratárias, lesões vesiculares e condições graves ou de tratamento complexo.
    A biópsia deve ser realizada com técnicas apropriadas, evitando antissépticos que alterem as amostras. Instrumentos como bisturis e saca-bocados maiores (8-10 mm) são preferidos, e as amostras devem ser fixadas em formol a 10%, acompanhadas de informações clínicas detalhadas. Um laboratório confiável é essencial para garantir diagnósticos precisos, tornando o exame eficiente e econômico.
 

    A precisão dos diagnósticos depende tanto da escolha correta do exame quanto da qualidade do material enviado ao laboratório. A colaboração entre clínicos e patologistas é essencial para garantir resultados confiáveis. Por isso, é fundamental escolher serviços laboratoriais de confiança, como os listados acima, e manter uma comunicação clara para discussão de casos e interpretação de resultados.
 
Referências

CAMPANA, Aline Bittencourt. Diagnóstico dermatológico na clínica de cães e gatos. Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Rio Grande do Sul, p. 53, 2010.

CAUBET, L. F. Diagnóstico histopatológico em dermatologia: como obter os melhores resultados em biópsias cutâneas. Derma Experience, v. 02, fev. 2022.

FEITOSA, Francisco Leydson F. Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico. 3. ed, São Paulo: Roca, 2014. 644p.

 

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

 


Alguns alimentos que nós consumimos podem ser perigosos para os animais, como cães e gatos. Isso acontece porque o organismo deles funciona de maneira diferente, especialmente no fígado, onde as substâncias dos alimentos são "processadas". Esses alimentos podem estar presentes no ambiente do animal e, em muitos casos, são consumidos por acidente, principalmente porque pets têm muito contato com a comida humana.

A seguir, explico os alimentos mais comuns que podem causar intoxicação em cães e gatos e os motivos pelos quais eles devem ser evitados.


Alho e cebola

Alho e cebola possuem substâncias que danificam as células vermelhas do sangue, causando anemia e fraqueza nos animais.

  • Como os animais podem consumir: cães e gatos podem ingerir alho ou cebola em sobras de comida humana, como sopas, molhos ou temperos. Cavalos, vacas e outros animais também podem se intoxicar ao ter acesso a plantações.
  • Quantidade perigosa: em gatos, 5 gramas de cebola por quilo do peso do animal podem causar problemas. Em cães, isso acontece com 15 a 30 gramas por quilo.
  • Atenção: o cozimento ou a secagem desses alimentos não elimina o perigo.

Chocolate, café e chá

Esses alimentos contêm substâncias chamadas metilxantinas (cafeína, teofilina e  teobromina) que são difíceis de eliminar do corpo dos cães e gatos, causando intoxicação.

  • Como eles afetam o animal: os efeitos tóxicos desses alimentos dependem do teor de metilxantinas presentes: por exemplo, chocolate ao leite possui menor teor de cacau que o chocolate meio-amargo e, consequentemente, é menos tóxico. Mesmo uma pequena quantidade pode causar vômitos, tremores, hiperatividade e, em casos graves, convulsões e até morte.
  • Atenção aos sinais: os sintomas incluem vômito, diarreia, agitação, dificuldade para andar e batimento cardíaco acelerado.

Abacate

O abacate (fruta, folhas e sementes) é tóxico para muitos animais, incluindo cães, gatos, cavalos, aves e até peixes.

  • O que pode acontecer: os sintomas variam, mas podem incluir vômito, diarreia, dificuldade para respirar e problemas no coração. Em aves, pode causar até morte rápida.
  • Cuidado com o acesso: mesmo pequenas quantidades podem ser perigosas para os pets.

Macadâmia

As nozes de macadâmia são muito perigosas para os cães.

  • Como afetam o animal: mesmo poucas nozes podem causar vômitos, fraqueza muscular e dificuldade para caminhar.
  • Causa do problema: ainda não se sabe exatamente o que torna as macadâmias tóxicas, mas o risco é real.

Uvas e passas

Uvas e passas podem causar falência dos rins em cães, mesmo em pequenas quantidades.

  • O que pode acontecer: os sintomas incluem vômito, fraqueza, falta de apetite e, em casos graves, insuficiência renal e morte.
  • Atenção: a quantidade que causa problemas pode variar, mas é melhor evitar completamente.

Adoçante (xilitol)

O xilitol, encontrado em gomas de mascar, balas e outros doces, é altamente tóxico para cães.

  • O que ele faz: o xilitol provoca uma queda brusca nos níveis de açúcar no sangue, podendo levar à morte. Também pode causar danos graves ao fígado.
  • Sinais de intoxicação: vômito, fraqueza, tremores, convulsões e até hemorragias internas.
  • Por que é perigoso: diferente dos humanos, os cães reagem ao xilitol com uma liberação excessiva de insulina, o que causa os sintomas.

Outros alimentos perigosos

  • Bebidas alcoólicas: podem causar vômito, diarreia, dificuldade para respirar e até coma.
  • Alimentos salgados: como batata frita e pipoca, podem levar a intoxicação por excesso de sal.
  • Vegetais crus ou verdes (tomate ou batata verde): podem ser tóxicos para os gatos, causando problemas digestivos e nervosos.

Como evitar problemas?

  • Não ofereça alimentos humanos aos seus pets, mesmo que pareçam inofensivos.
  • Guarde alimentos perigosos fora do alcance dos animais.
  • Sempre dê ao seu pet alimentos próprios para a espécie dele, desenvolvidos para atender às suas necessidades nutricionais.

Se você suspeitar que seu animal ingeriu algo tóxico, procure um veterinário imediatamente. O atendimento rápido pode salvar a vida do seu pet!

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

 

O que faz o médico veterinário perito criminal?

O médico veterinário perito criminal é o profissional responsável por realizar procedimentos periciais, que consistem em um conjunto de ações forenses. Essas ações podem incluir exames, vistorias, investigações, avaliações e outras atividades relacionadas, dependendo da complexidade do caso. Todo o trabalho é realizado seguindo as boas práticas e as normas da profissão.

 

Como o perito atua?

O perito utiliza ferramentas permitidas por lei e normas específicas para elaborar o laudo pericial, que é o documento final do processo. Durante o trabalho, ele mantém registros detalhados, como:

  • Locais e datas das diligências;
  • Pessoas envolvidas no caso;
  • Animais e produtos examinados;
  • Documentos, atos e fatos relevantes para a perícia.
 

A importância dos registros

Para elaborar um laudo técnico e confiável, o perito documenta todas as informações relevantes que sustentam suas conclusões. Essa documentação, chamada de "papéis de trabalho", podem incluir:

  • Registros de diligências;
  • Fotografias, desenhos e plantas;
  • Documentos e declarações;
  • Depoimentos e notificações.

Os papéis de trabalho são organizados de forma sistemática, servindo como prova e garantindo que a perícia siga as normas vigentes.

 

Planejamento e elaboração do laudo pericial

O planejamento é essencial para que o trabalho pericial seja eficiente, sem perda de tempo ou prejuízo para as partes envolvidas. Essa etapa prevê:

  • Diligências necessárias;
  • Pesquisas;
  • Cálculos;
  • Respostas aos quesitos propostos.

O resultado do trabalho é o laudo pericial, um documento técnico e detalhado que relata os exames forenses realizados. Esse laudo tem como objetivo auxiliar o juiz na tomada de decisões e esclarecer questões relacionadas ao caso.

 

Como tornar-se perito criminal veterinário?

Para atuar como perito criminal, o médico veterinário deve:

  1. Ter registro ativo no Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV).
  2. Ser aprovado em concurso público na área de perícia criminal.

Além disso, a especialização em medicina veterinária legal pode ser um diferencial, aumentando as chances de sucesso em concursos e processos seletivos. Cursos de mestrado e doutorado também contribuem para uma formação mais robusta e competitiva na área.


quinta-feira, 7 de novembro de 2024

 


A Fundação Arthur Bernardes (Funarbe), na última segunda-feira (04/11/24) objetivando apoiar as atividades do projeto: Atualização e apoio na coordenação dos Hubs Virtuais de apicultura e feijão-caupi e suporte na estruturação de novos Hubs Virtuais ligados a sistemas integrados e outros temas, concederá Bolsa de Estimulo à Inovação, no valor de R$700, destinada à formação e à capacitação de recursos humanos e à segregação de especialistas que contribuam para a execução de projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação, realize atividades de extensão tecnológica, de proteção da propriedade intelectual e de transferência de tecnologia de interesse da Embrapa.

A bolsa terá duração de 09 (nove) meses, contando com apenas 01 (uma) vaga.


Quem poderá concorrer?

Estudantes de Ciências Agrárias ou Biologia com disponibilidade de 20 h semanais e aptidão para escrita científica. É desejável que tenha realizado estágio em pesquisa na área do projeto Sisteminha Embrapa, que envolve atividades relacionadas a piscicultura, galinha de postura, produção vegetal e compostagem, bem como conhecimento na edição de textos e planilhas eletrônicas e disponibilidade para viajar, quando necessário.

 

Atividades a serem desenvolvidas

Participar da manutenção e implementação do Sisteminha Embrapa, contribuindo nas ações de divulgação e elaboração de material técnico para o Hub Virtual do Sisteminha.

 

Seleção

O processo de seleção será realizado através da análise das informações curriculares pelo coordenador do projeto, e classificados conforme requisitos obrigatórios e desejáveis para a respectiva vaga de acordo com o seguintes critérios:

Obrigatórios:
  • Formação acadêmica equivalente à exigência da vaga pretendida (estudante de ciências agrárias e biologia);
  • Disponibilidade de carga horária necessária para a vaga pretendida;
  • Experiência em escrita científica;
  • Disponibilidade para residir no local de execução das atividades;
  • Currículo lattes atualizado e comprovado;
Classificatórios:
  • Experiência em projetos de pesquisa e extensão em instituições com relevância na área, bem como em empresas do setor público ou privado;
  • Produção científica (publicações em congressos científicos e revistas científicas com ISSN) e qualificações complementares;
  • Curso realizado com carga horária igual ou acima de 20 horas na área de atuação do projeto (piscicultura, galinha de postura, produção vegetal e compostagem). 

As inscrições vão até o dia 15/11/2024, com data prevista para o início das atividades em 15/11/2024.

Link de Inscrição

Edital

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

 

    Na quarta-feira do dia 30 de outubro de 2024, a Diretoria Colegiada da Anvisa aprova uma medida que possibilita a regularização de produtos à base de Cannabis sativa pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) e permite a prescrição desses produtos por profissionais médicos veterinários.

    Essa decisão permitirá as seguintes medidas relacionadas ao uso medicinal da Cannabis em animais, no que se refere ao registro e produto:

    O MAPA regularizará produtos veterinários à base de Cannabis para comercialização no Brasil.

    Médicos veterinários devidamente habilitados pelo seu conselho (Conselho Federal de Medicina Veterinária) poderão prescrever:

  • Produtos registrados como MEDICAMENTO à base de Cannabis registrados pela Anvisa.
  • Produtos de Cannabis com autorização sanitária emitida pela Anvisa, nos termos da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 327/2019, ou seja, regularizados como produtos de Cannabis.
  • Produtos de uso exclusivo animal que venham a ser regularizados pelo Mapa.
    Os veterinários que pretendem trabalhar com esses medicamentos só poderão prescrever em receitas especiais as quais ficarão retidas nas farmácias, conforme legislação vigente, visando o uso exclusivamente terapêutico dessas substâncias.

 

Como a Cannabis poderá contribuir com a Medicina Veterinária?

    A Cannabis sativa é uma planta com efeitos psicotrópicos, ou seja, que atua sobre as funções psíquicas e mentais do indivíduo. Além disso, ela possui grande potencial terapêutico devido à presença de diversos compostos químicos com atividade farmacológica. Entre esses compostos, destacam-se os canabinoides, como o canabidiol (CBD) e o delta-9-tetrahidrocanabinol (THC). Vale destacar que o THC é o principal composto responsável pelos efeitos psicotrópicos da planta.

    Os animais possuem um sistema biológico denominado sistema endocanabinoide, que é responsável por regular diversas funções fisiológicas. Esse sistema é composto por substâncias chamadas endocanabinoides, que se ligam a receptores canabinoides encontrados nas membranas celulares. Existem dois tipos principais de receptores canabinoides: os tipos 1 (CB1) e 2 (CB2), localizados em diferentes órgãos e tecidos do corpo.

    Esses receptores podem ser ativados tanto pelos canabinoides produzidos naturalmente pelo corpo (endógenos) quanto por compostos externos (exógenos), como o THC e o CBD. Quando os canabinoides se ligam aos receptores CB1 e CB2, eles modulam diversas funções fisiológicas e podem gerar efeitos terapêuticos, como a redução da dor, inflamação e ansiedade.

    No sistema imunológico, os receptores CB2, localizados principalmente no tecido linfoide, desempenham um papel importante. Quando ativados, eles ajudam a regular a liberação de citocinas pelas células imunológicas, o que contribui para a redução da dor e da inflamação. No cérebro, os receptores CB1 estão envolvidos na modulação da liberação de neurotransmissores, o que ajuda a evitar a atividade neuronal excessiva, resultando em efeitos calmantes e na redução da ansiedade. Isso, por sua vez, também contribui para a modulação da dor.

    Além disso, foi descoberto que os receptores canabinoides CB1 e CB2 também estão presentes nas células tumorais. O uso de fitocanabinoides, como o THC e o CBD, pode direcionar-se a essas células, ajudando a inibir sua proliferação e induzindo a morte celular por dois processos: apoptose (morte celular programada) e autofagia (autodestruição celular). Esse mecanismo ocorre através da ativação de caspases, proteínas envolvidas no processo de morte celular.